segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Racismo No Futebol

Racismo no futebol é a prática racista envolvendo manifestações vocais (como xingamentos e provocações) e, manifestações gestuais (quando são exercidas através de sinais ou por meio de cartazes, faixas ou suásticas). Esses atos racistas são praticados nos estádios de futebol  (em campo, entre os jogadores, e nas arquibancadas, entre os torcedores)  e no entorno dos mesmos (nas ruas e avenidas e imediações de transportes como terminais de ônibus ,estações de trens e de metrô).
O livro O Negro no Futebol Brasileiro de Mário Rodrigues Filho (1947) é sem dúvida, em língua portuguesa, o texto fulcral para se iniciar a discussão sobre relações étnico-raciais no futebol brasileiro. Nesta obra prima, Mario Filho brinda-nos com os capítulos: Raízes do saudosismo; O campo e a pelada; A revolta do preto; A ascensão social do negro; A provação do preto e A vez do preto. Mario Filho ora utiliza o termo negro ora preto. Atualmente, o termo preto poderia ser interpretado como de cunho racista. Entretanto, à época, não existia este tipo de discussão.
A questão do racismo no futebol é retomada no Brasil em 1998 por meio de um artigo contundente: "A linguagem racista no futebol brasileiro" (SILVA, 1998). Neste trabalho, o autor interpreta notícias veiculadas em jornais após as derrotas da seleção brasileira em Copas do Mundo. Discute o papel da mídia na reprodução e construção do racismo no futebol brasileiro e conclui que nas derrotas o sentido construído socialmente para determinadas metáforas desclassifica o jogador, sobretudo, como ser humano e não apenas como atleta. Esse sentido desclassificatório dirige-se com mais ênfase a determinados grupos de jogadores, que em geral são negros ou mestiços.
A primeira tese de doutorado que vai tocar diretamente na questão do racismo no futebol brasileiro é o trabalho de Silva (2002), intitulado “Futebol, Linguagem e Mídia: Entrada, Ascensão e Consolidação dos Jogadores Negros e Mestiços no Futebol Brasileiro”. Além de ratificar as conclusões demonstradas no artigo “A linguagem racista no futebol brasileiro”, Silva apresenta um tópico inédito até então. Em sua conclusão, introduz uma discussão sobre as estruturas de dominação que dificultam a ascensão dos treinadores negros no Brasil. Nas entrevistas que realizou com jornalistas, ficou evidenciado que os negros têm muitas dificuldades para ingressar no mercado de trabalho de treinadores de futebol.
Em 2010, Tonini defendeu a dissertação de mestrado “Além dos gramados: história oral de vida de negros no futebol brasileiro (1970-2010)”. Neste trabalho, o autor focaliza o mercado de trabalho dos treinadores negros. A partir da análise e interpretação de 20 entrevistas, realizadas com ex-jogadores, árbitros e outras pessoas do cotidiano do futebol, conclui que existe uma herança do ideário escravocrata, cuja idéia é a de que o negro não serve para pensar e, por esta razão, seria incapaz de comandar.
Atos racistas, como os que tiveram como alvos os jogadores Roberto Carlos e Neymar recentemente, em jogos na Europa, costumam ganhar maior repercussão justamente quando ocorrem no exterior.
Quando acontecem em estádios brasileiros, episódios como esses costumam ser minimizados ou negados pelos autores e até mesmo pelos próprios atletas hostilizados, devido à ideologia de que o Brasil é uma democracia racial e isento de racismo, segundo dissertação de mestrado em história social defendida em fevereiro na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).
Intitulado “Além dos gramados: história oral dos negros no futebol brasileiro (1970-2010)”, o estudo foi feito por Marcel Diego Tonini e contou com Bolsa da FAPESP.
Apesar da vasta história de atitudes preconceituosas entre jogadores e torcedores, nenhuma punição severa foi dada aos acusados. Relembre alguns casos:
Apesar de promover há algum tempo um combate intenso contra o racismo, a Fifa pouco conseguiu fazer fora e dentro do âmbito esportivo. As diversas campanhas realizadas pela entidade não surtiram o efeito desejado e os casos de discriminação seguem impunes. Apenas algumas multas são aplicadas.
Apesar da grande quantidade de acusações racistas no futebol, poucas atitudes foram tomadas fora da esfera esportiva. Não houve qualquer condenação pelo crime inafiançável.
Roma e Lazio já tiveram que desembolsar dinheiro por cânticos racistas de seus torcedores. A primeira teve que pagar 25 mil euros à Federação Italiana, enquanto a rival da capital foi punida com multa de 15 mil euros. Mais recentemente, Juventus e Cagliari também receberam multas pelo comportamento de seus torcedores. Em Portugal, o jogador que praticar ato racista em campo verá seu clube jogar com portões fechados.
No final de 2009, o zagueiro argentino Héctor Gaitán, que atua no Oriente Petrolero, da Bolívia, foi suspenso por cinco partidas e multado em cerca de 15 mil dólares por ter ofendido o jogador Alejandro Gómez, do Blooming.
"O que me preocupa não é o grito dos maus. E o silêncio dos bons."
Martin Luther King

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